Origem e História do Cristianismo Celta

A origem histórica do Cristianismo Celta remonta ao primeiro século da Era Cristã. Temos informações arqueológicas de cristãos nas ilhas britânicas no final do século I d.C. No I Concílio de Niceia (325) temos registrado a presença de Bispos da Inglaterra. Provando, que já existia uma Igreja organizada nas ilhas e a antiguidade do Cristianismo espalhado em várias comunidades autônomas e com características próprias de vivência da fé católica e cristã. No entanto, o grande evangelizador das comunidades celtas, especialmente, na Irlanda, foi São Patrício (século V). Este Bispo inglês foi o grande responsável pela conversão da população nativa da ilha, e de forma surpreendente e inteligente, permitiu que fossem mantidos muitos elementos da cultura, mitologia e folclore desta população, facilitando a entrada da espiritualidade cristã, destacando a Cruz Celta, símbolo do "paganismo" da ilha de antigos cultos locais, muito anterior ao próprio Cristianismo, a qual com São Patrício será adotada e absorvida como cruz cristã. Neste sentido, Cristianismo céltico pode ser distinguido por certas tradições únicas (especialmente em questões de liturgia e ritual) que eram diferentes daquelas do grande mundo romano, inclusive o calendário litúrgico, paramentos e, especialmente, desenvolvido ao redor dos mosteiros autônomos e isolados da influência e do poder da Igreja Romana.

A distância geográfica com o continente europeu, e especialmente, com Roma, teria feito com que o Cristianismo Celta construísse uma identidade litúrgica e uma liberdade em muitos pontos da catolicidade, sem ser fiscalizada e reprimida por um poder central, em função da distância, mencionada acima, e pelos vários problemas históricos que a Europa passava na transição do mundo antigo para o mundo medieval, conflitos políticos, militares e tantos outros. Desta forma, a Igreja Romana, "esqueceu", por um longo tempo, dos católicos na Irlanda e ilhas vizinhas, mandando missões esporádicas, que enfrentavam uma série de obstáculos para chegarem até estas ilhas. Estradas e caminhos perigosos, constantes guerras regionais, salteadores, o que levava muito tempo para organizar missões de fiscalização da fé católica romana nestas ilhas britânicas. O que foi muito bom para o crescimento, amadurecimento e consolidação do catolicismo, espiritualidade e ortodoxia celta.

Só para reafirmar e não ter dúvidas: o cristianismo celta era independente e autônomo, em função do que foi descrito acima! Então, NUNCA existiu Igreja Católica Celta presa a Igreja Romana, pelo menos até o século VII, quando seriam assinados vários tratados entre os soberanos britânicos com o papado romano, especialmente, na questão da unificação do calendário litúrgico e de elementos dogmáticos latinos. TODAS as igrejas atuais que usam o nome CELTA, estão resgatando a espiritualidade, as tradições deste cristianismo antigo e medieval, adaptando aos tempos modernos.

Qualquer igreja que afirmar que é "dona" e herdeira da "Igreja Celta antiga", isto não é verdade, e não tem base historiográfica nenhuma. Aquelas que têm sucessão apostólica válida, e seu Bispo Primaz vindo de uma tradição celta, como a nossa, e outras igrejas particulares, possuem o direito de herança da espiritualidade Celta e sua ortodoxia. Então, não basta "pegar" esta espiritualidade e fundar uma igreja! Atualmente, várias destas "igrejas celtas", revivem este cristianismo dentro de vários carismas, como o católico liberal, a ortodoxia, o protestantismo e até o paganismo. Porém, é na ortodoxia que se encontra a fidelidade ao cristianismo celta, pois foi assim, que as antigas igrejas celtas se constituíram, até porque não existia ainda o movimento protestante e muito menos o catolicismo liberal. E é necessário ter cuidado, pois muitas se apresentam como Igreja Celta genuína, contando mentiras sobre sua antiguidade, lendas fabulosas que colocam José de Arimateia como fundador de suas igrejas, fato sem base historiográfica nenhuma, tudo para garantir uma brilhante origem, mas que não passa de estelionato religioso! Outras, misturam com sociedades secretas, grupos templários que ainda sonham em resgatarem o Santo Graal, o que não deixa de ser infantil ou ridículo, quando não usam elementos do paganismo em rituais secretos! A Igreja Celta do Brasil deixa claro tudo isto e de forma direta, sem arrodeios, para mostrar a nossa transparência institucional e não levar ou induzir ninguém ao erro. Como no passado, encontramos diversas "igrejas celtas", atualmente, observamos o mesmo fenômeno característico deste cristianismo particular e suis generis, ou seja, diversas igrejas celtas, mas poucas com legitimidade.

No início do século XVI, uma grande revolução religiosa irá ocorrer com a Reforma Protestante na Grã-Bretanha, incluindo, é claro a Irlanda. O Rei Henrique VIII fundará uma nova Igreja Cristã com soberania ligada diretamente ao Estado, porém desligada, definitivamente do papado romano: nasce a Igreja Anglicana, nasce enquanto instituição, pois como afirmamos, a igreja na Inglaterra remonta ao I século. Até aí tudo bem, porém, será um momento de grandes perseguições a tudo que fosse da Igreja Romana. Suas terras serão confiscadas, mosteiros e conventos fechados, padres e religiosos perseguidos e muitos mortos pela "onda" de combate ao romanismo. Na Irlanda não poderia ser diferente, e vale dizer, que ainda hoje respinga estes conflitos, mas já superado bastante na sua grande maioria!

Do século XVI até o século XX, aquela "Igreja Celta", independente de Roma e com identidade litúrgica e espiritualidade própria, praticamente, foi destruída, pela grande confusão e guerras religiosas que a Irlanda e a Europa estavam passando. O que "sobrou" da chamada cristandade celta foram pequenos "focos" de resistência, quase doméstico e local! A Irlanda passaria por duas fortes correntes religiosas, a protestante e a católica romana, um país agora dividido, o que resultaria na divisão territorial da ilha, como hoje nós temos dois países, um totalmente soberano como República (1921) e o outro integrado à Comunidade Britânica e a Coroa inglesa (Irlanda do Norte)! Esta divisão foi fruto dos conflitos religiosos entre católicos e protestantes e questões políticas locais!

Também no século XX, muitos católicos na Irlanda e no Reino Unido, passaram a questionar uma série de características antagônicas do catolicismo romano, como a infalibilidade do Papa, o casamento em segunda união, o celibato clerical, etc. Vale lembrar, que este movimento passou a ser aos poucos mundial e aqui no Brasil, o exemplo de destaques foram com Dom Carlos Duarte, ex Bispo romano, fundador da Igreja Católica Apostólica Brasileira - ICAB, e Dom Salomão Ferraz, fundador da Igreja Católica Livre, posteriormente, Igreja Católica Apostólica Independente.

A Igreja Celta do Brasil esclarece com todo cuidado seu carisma, sua ortodoxia, e especialmente, sua transparência como uma instituição inspirada na espiritualidade hesicasta. Este é nosso caminho da honestidade institucional, sem mentir ou camuflar o que não existe. Que Deus abençoe a todos os buscadores do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo!